Sei que o artigo de hoje será polêmico... E coloquei ali "parte 1" porque é um tema com mil desdobramentos, então provavelmente ainda falarei mais sobre isso.
Não sei ao certo quando isto começou, mas é bem possível que tenha tido o seu ápice na época do chamado romantismo, aquele período da história em que cometer o suicídio por amor era considerado lindo e nada era mais sedutor do que uma pessoa doente, à beira da morte suplicando pela presença do ser amado. É só lembrar da famosa história da Dama das Camélias... Uma mulher de vida nem tão fácil, uma tuberculose avançada e um homem que fazia parte de um mundo totalmente diferente do seu. Confesso que nunca vi graça nisso e por isso mesmo nunca me considerei uma romântica do tipo tradicional.
O tempo passou, os valores mudaram, mas resiste ainda esta ideia de que um amor bandido, um amor sofrido, lágrimas de sangue são o que há de mais belo no amor. Para começar a falar sobre isso, vamos falar de amor...
As pessoas têm a mania de dividir o amor. Amor pelos pais, pelos filhos, pelos amigos e o amor romântico. Eu creio em um só amor manifestado de diferentes maneiras. Em primeiro lugar, o amor em si é uma afetividade sem muita explicação racional, um sentimento de querer o bem do outro, às vezes até mais do que o próprio bem. Amar alguém é sentir um tipo de felicidade pelo fato do outro estar bem e feliz, mas, assim como o tradicional "amor de mãe" também é tanto abrir mão de seus próprios caprichos em benefício do outro quanto brigar com o outro quando ele tem atitudes que podem lhe geral algum mal.
Se considerarmos tudo isso o verdadeiro amor, quando olhamos em volta vemos muito mais o sentimento de posse, o ciúme, o egoísmo do que o sentimento mais belo que existe. Amor não se troca, não se vende, nem se "ama pelos dois", como alguns folhetins costumam divulgar. Amor sente-se e pronto! Nunca pode ser objeto de barganha e nem mudar porque o outro fez algo que não gostamos, inclusive decidir ir embora.
Mas todo este preâmbulo é para falar sobre outra coisa, mais ampla e menos romântica.
Tenho visto com muita frequência e em vários setores da vida pessoas indo de um extremo ao outro. São oscilações emocionais que acontecem em função do meio e do comportamento alheio, reações e não ações. Assim vemos pessoas que dizem amar e odiar pessoas, ideias, conceitos, situações, partidos políticos, crenças e até lugares baseadas em um sentimento infantil do tipo: se isso me desagrada, eu odeio, se isso me agrada, eu amo.
Eu, assim como as "palavras de sabedoria" do Facebook, só observo...
Fico pensando que se estas pessoas se vissem de fora, sem o envolvimento direto e o turbilhão de emoções em desequilíbrio, certamente, acreditariam estar diante de um diagnóstico de bipolaridade. Mas o ser humano possui uma incrível incapacidade de enxergar a si mesmo.
Assim, vão vivendo entre amor e ódio, ansiedade e depressão, alegrias e tristezas. Ninguém busca o equilíbrio, o caminho do meio, como se o combustível para se manter vivo fossem sempre as fortes emoções. Ninguém quer paz... Ou quer que seus desejos sejam satisfeitos ou quer guerra. Um dos exemplos mais comuns são as idas e vindas de amizades e mesmo os relacionamentos de trabalho. Um dia, fulano me ajudou, então "nossa! Fulano é tudo de bom! Que pessoa incrível!". No outro dia, fulano estava muito ocupado com suas próprias coisas e nem me deu muita atenção, então "fulano é um egoísta, fulano me rejeitou, me ignorou", e o que era amor vira ódio.
Quantas vezes já ouvi alguém descrever um amigo, familiar ou conhecido cheio de rancor, para uma ou duas semanas depois estar de beijos e abraços porque esta mesma pessoa o convidou para sair, comprou um presente ou simplesmente foi atencioso. Como alguém pode odiar em um dia e poucos dias depois amar? Provavelmente, porque a pessoa não ama ou odeia o outro, apenas se coloca como um papel ao vento, se deixando levar por ele, fora de eixo, fora de centro, fora de si.
E por que devemos amar ou odiar de forma tão passional e transitória? Por que não, simplesmente, amar no sentido de querer o bem de todo mundo e evitar a proximidade com pessoas que lhe causam mal, por uma questão de sabedoria, e não de rancor ou ódio? Se o amor existe, ele existe dentro de quem ama. Como pode algum fator externo fazer este amor virar ódio?
Pois bem, existem várias explicações para isso, mas eu gostaria de destacar algumas, mais frequentes e mais profundas: carência, falta de amor próprio, egoísmo e egocentrismo infantis, falta de conhecimento de si mesmo e permissão para que fatores externos influenciem de forma radical quem se é e o que se sente.
O processo de autoconhecimento e de desenvolvimento pessoal tem por objetivo, dentre outras coisas, gerar uma autonomia e uma harmonia interiores que sejam inabaláveis pelo comportamento de outras pessoas. E vejo, dia após dia, o quanto a maioria das pessoas não consegue compreender isso quando, por exemplo, muitas me perguntam: "mas você pratica o Ho'oponopono e, de verdade, consegue continuar amando as pessoas mesmo quando elas deliberadamente querem o seu mal? Então, você vai permitir que elas continuem te fazendo mal?" O que para mim é fácil entender (apesar de nem sempre ser fácil praticar, meu aprendizado e esforço são diários) é que 1) se eu me conheço e me respeito, amo a minha essência, não vou permitir que atitudes alheias me façam mal 2) se estas atitudes não são somente palavras ao vento, se elas resultam em algo mais concreto, por exemplo, me prejudicar profissionalmente ou minha relação com os outros, acrescenta-se aí o necessário afastamento desta pessoa 3) odiar alguém fala muito mais da minha falta de maturidade emocional, mental e espiritual do que do caráter da outra pessoa. Eu não odeio, eu amo (respeito o ser divino que há no outro) e compreendo que naquele momento o seu desequilíbrio emocional ou mental e a sua falta de entendimento espiritual resultam em um comportamento negativo. Aquilo é tudo que aquela pessoa é capaz de dar. E, vocês sabem... Só se dá o que se tem. E uma pessoa que tem tão pouco de bom a dar precisa de vibrações amorosas mais do que ninguém.
O ódio não é o oposto do amor... Ódio é um desequilíbrio, uma patologia. O contrário do amor é a morte, é a ausência de vida. Podem me chamar de idealista, mas acho que o amor é o estado fundamental da vida. Se algum dia tive inimigos, desconheço... Ou porque eles passaram a gostar de mim ou porque foram levados pra longe por uma simples questão de sintonia, essas pessoas não encontraram terreno fértil perto de mim para exercitar seus maus sentimentos. Sei muito bem quais são todos os defeitos da pessoas que mais amo (e de mim mesma, claro) e sei também quais são as melhores qualidades das pessoas que, por princípio, não me são muito caras. Não sou o tipo ideal de pessoa que um amigo procura para ocultar algum erro e da mesma forma sempre que um possível desafeto precisar do meu depoimento por algo de bom que ele fez, certamente o terá. Ao escrever isso, neste momento, talvez tenha ficado mais claro o porquê de tantas visitas da carta da Justiça por aqui, ela reflete muito da minha energia.
O caminho do meio está longe de ser o caminho de quem fica em cima do muro ou de quem é morno. Não, o caminho do meio é o caminho da harmonia e do equilíbrio interiores, quesitos que considero fundamentais para que se possa amar um amor verdadeiro e ser feliz plenamente. É abrir a janela ao acordar em um dia de sol e dizer "que dia lindo e ensolarado!" e abrir a janela em um dia de chuva e afirmar "as plantas do meu quintal ficarão felizes com isso, apesar de eu preferir os dias de sol". O mundo não foi criado para nos agradar de forma pessoal e individualista. As pessoas não estão vivas para nos mimarem, agradarem e satisfazerem nossos caprichos. Os relacionamentos afetivos não existem para abrandarem nossas carências e nosso medo da solidão. Não somos o umbigo do universo. O caminho do meio é o caminho que parte do nosso centro, nosso coração, e trilha uma vida inteira com a percepção de plenitude dentro e não fora. Nada que me cerca deveria ser capaz de me desequilibrar, nada que fazem comigo deveria ser capaz de enfraquecer o amor que eu sinto, nada que acontece comigo deveria ser capaz de impedir que a extrema gratidão pela vida diminua, nem uma gota, nem um grama, nem um centímetro. Sei que ainda não é 100% assim que acontece, mas eu sei que é para isso que eu quero caminhar.
Sinto muito, me perdoe, te amo, sou grato. Levei... Beijos de paz e gratidão.
ResponderExcluirTexto lindo, uma delícia, Cláudia!
ResponderExcluirMandou bem!!!
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