segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A Rainha de Espadas e o Amor - Parte 4

Depois de assistir mais uma comédia romântica e chorar de pura emoção, fiquei refletindo sobre tudo isso... Percebi algumas coisas e resolvi compartilhar com vocês.

Já ouvi muitas pessoas falando que comédias românticas fazem mal à saúde emocional das humanas criaturas, porque elas mostram situações irreais, utópicas, impossíveis de acontecer em termos práticos. Ouso discordar radicalmente.

As comédias românticas mostram o começo e este começo pode ser real, eu mesma já vivi várias situações "de filme" e foram inesquecíveis! A questão é: como é possível dar continuidade a isso?

A primeira pergunta que todos devemos fazer é: o que eu quero de um relacionamento afetivo? Existem pessoas que desejam somente uma parceria, estável e segura. Para essas pessoas, de temperamento mais frio, tudo poderá seguir seu curso sem maiores abalos. Outras pessoas são eternas apaixonadas e só se sentem vivas e realizadas quando vivenciam fortes emoções. Para essas, um relacionamento afetivo estável e duradouro costuma resultar em muita frustração. Eu já fui deste segundo grupo e sei do que estou falando.

O tempo passa, no entanto, e começamos a perceber algumas coisas...

Em primeiro lugar, e talvez nem todos tenham isso bem claro, viver em constante estado de paixão pode ser algo perigoso... para a saúde! Saúde física, mental e emocional... Sério! Aquele desespero, a insegurança constante, o apego, a sensação de que só dá para respirar ao lado da pessoa amada algumas vezes atinge um nível patológico grave. Nessas horas, eu levanto minha mãozinha, relembrando os velhos tempos, e digo "oi, meu nome é Cláudia e fui uma viciada em paixão". Mas o tempo é sábio e parece que eu também...rs Então consegui me livrar disso já há alguns anos.

Em segundo lugar, relacionamentos são construções feitas por duas pessoas. Dizer que relacionamento tende ao fracasso é afirmar que somos uns fracassados afetivos. Eu não gosto de pensar que isso é verdade. É claro que existem desafios e dificuldades, mas tudo vai depender da postura de cada um para lidar com isso. A questão fundamental é: os dois querem lidar com isso? Os dois estão dispostos a dar importância e valor para o relacionamento? Ou a sobrecarga fica toda em cima de um só? Eu tenho arrepios de terror quando ouço aquela velha frase: "eu tenho amor por nós dois!" Prevejo um futuro trágico para isso e sem cartas!

Finalmente, este para mim vem sendo o ponto mais importante: ninguém vive só de amor, da mesma forma que ninguém vive só de trabalho, academia, amizades, família... Somos seres completos com uma gama de necessidades e gostos. Continuo apostando sempre no equilíbrio para todas as coisas. Entendo que para que eu esteja bem tenho que ter amor, profissão, vida financeira, amizades, estudos, espiritualidade, família, cuidados com a saúde, trabalho interior - tudo isso! - fluindo de forma harmônica. Conseguimos estar em 100% em cada uma dessas coisas? Dificilmente! Mas a ideia é vivenciar da melhor forma possível, a cada momento, tudo isso.

Hoje, mesmo que eu quisesse, não teria tempo hábil para me lançar em uma paixão daquela que domina a gente 24h por dia, aquele sentimento arrebatador e descontrolado que sequestra nossos neurônios, dificulta o trabalho, tira a concentração dos estudos, nos isola da família e dos amigos. Sinceramente, não quero isso pra mim. Bendita idade! Bendita maturidade! rs

Ontem, assisti uma palestra de um lama tibetano que falava sobre amor e relacionamento que muito me agradou. Eu, que sempre me considerei uma romântica e - segundo teorias intelectualizadas - uma iludida, percebi que estava bem afinada com tudo que ele disse, só uso expressões diferentes. Ele afirmava que não existe cerimônia de casamento no budismo porque é complicado lidar com o conceito de impermanência diante do casamento. Fato. Fatão. Ele também dizia que uma boa forma de se relacionar é ter consciência de que aquilo não ficará ali, imutável e ancorado para todo sempre... e que isso nos desperta para o fato de que pessoas não são coisas que nos pertencem, sem riscos e sem possibilidade de que um dia elas resolvam ir embora, por vontade ou por óbito. 

Há anos eu luto contra esta influência nefasta da lei da inércia que envolve a maioria dos casais... Aquilo que faz com que as pessoas se transformem em móveis da casa, algo que está ali para ser usufruído quando nos dá vontade e descartado quando achamos que temos outras coisas mais interessantes a fazer. Olhe para seu companheiro ou sua companheira "como se não houvesse amanhã" e eu duvido que ele se transforme em móvel da casa. Daí temos todos os ditos populares: "fulano só deu valor quando perdeu". Assim costuma ser... O casamento costuma anestesiar as pessoas a tal ponto, que muitos só dão conta da existência do outro/outra depois que a relação não existe mais.

Ninguém te pertence. Ninguém ficará a vida inteira te esperando. Ninguém vive por você, sem ter seus próprios sonhos, desejos e realizações pessoais. Uma relação para ser feliz e rica para ambos precisa lidar com o incrível processo de transformações individuais somado à transformação da relação em si. Isso me lembra uma outra coisa que o lama falou: a importância de enxergar o outro, ouvir o outro e estar realmente interessado na felicidade dele. Lidar com tudo isso ao mesmo tempo é bem mais difícil do que dirigir ou tocar piano, mas eu ainda gostaria de acreditar que o ser humano pode conquistar essa habilidade.

Conquistemos, pois...

6 comentários:

  1. Engraçado que hoje eu estava pensando sobre a visão romântica que eu tenho dos relacionamentos e quem sabe deixando o que é real, diário e construído com pequenos gestos um pouco de lado.Acho que sempre me prendo um pouco na vontade mais apaixonada da coisa, e espero demais, como se pudesse controlar.
    Seu texto foi para mim hj...
    Beijos e boa semana .

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  2. Pois justamente esse aspecto alucinado do estado apaixonado tem me travado. Não tenho domínio sobre isso... ainda. E me aterroriza só de pensar que poderia cair de novo nesse estado.
    Cláudia, se não se importa, poderia postar o link da palestra do lama?

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  3. Oi, Cacau
    Vim pedir tb o link da palestra!!!
    Qto ao seu texto, que coisa gostosa a sua lucidez, que bom ver minha linha de pensamento refletida por uma cosmovisão tão especial como a sua! Um xero, Cacau! Poxa, que pena vc não mora Salvador..

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  4. E por falar em PAIXÃO...

    Bem Diz Você: - BENDITA MATURIDADE.

    Grata

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  5. Boa noite, meninas! :-)

    Di, eu tb já fui assim... E já sofri um tanto. Hoje, consigo enxergar as coisas de uma forma diferente, sem deixar de ser romântica ;-)

    Mell e Jeruza, cá está o link:

    https://www.youtube.com/watch?v=sB87u_jW2Jg&src_vid=l48JoRScqe0&feature=iv&annotation_id=annotation_4075373099

    Clarinha, bendita maturidade! rsrsrs

    beijos

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  6. Grata, Cláudia! Muito bom, o vídeo!
    Vi os meus sentimentos nos relatos da paixão juvenil dele... Complicado! Apesar do tom suave, não entendi os risos.... quer dizer, tanto sofrimento. Ai, ai. Paixão dói. Mas é como ele disse... se os ventos soprarem, quem vai conseguir impedir, né? Só posso pedir lucidez...

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O Curso do Destino é um mistério mesmo quando desvelado. É como o amor que se sente, nunca sabemos plenamente o que lhe deu origem. Fazer o próprio destino é estar consciente de seu próprio mistério, tal como agora, Via Tarot.